segunda-feira, 9 de abril de 2012

Canta - Allana B.


Canta no meu ouvido, sem lágrimas dessa vez.
Quero só você, a sua voz e seus suspiros. Seus milagres cuidadosamente impensados.
Não chora, menino, eu sei que o frio é grande, mas nessa cama há espaço demais e eu não ligo de dividir as minhas cobertas.
Encare. As coisas mudaram.
Os dias passaram como vultos por essa janela e você nem viu.
O sangue secou nos braços, as feridas se fecharam, o carteiro bateu dez vezes todos os dias, até o momento em que se cansou e passou a deixar as contas sobre o tapete imundo.
Levanta desse chão, vem pra cá que hoje tudo o que eu quero é te ouvir cantar.
Canta pra mim, de modo que eu esqueça tudo o que passou, tudo o que passamos e tudo que é passado.
Tira os seus sapatos, a sua roupa, você conhece cada canto dessa casa. Vá tomar um banho.
Não precisa sorrir, não precisa falar. Mas canta, mesmo que seja apenas pra cantar no chuveiro.

domingo, 1 de abril de 2012

Ruge - Allana B.



O peito dói. E dói forte.
Dói como as gotas de álcool na ferida aberta entre a pele. Dói como o desejo incessável por medicamentos, e o exagero vago nas dosagens súbitas de inconsciência.
Dói como os olhos perdidos nas miragens das enchentes em pleno deserto.
O peito dói e grita, grita alto, se afoga em sangue e suspiros.
O peito ruge.