sábado, 10 de novembro de 2012

Menino modelo, garoto manequim. - Allana B.


Sentado no canto da festa, disfarça-se o menino modelo. Vestindo sorrisos, marcas, tóxicos.
Pobre modelo, manequim... dos olhos dourados refletindo ilusões, dos ossos saltando no pescoço, tais como os saltos que o afastam das lembranças de uma família feliz.
Seus passos quase dançam, bailam. Entretanto, movimentos não mudam o cambalear aspirado, ou o sono proveniente de tantas pílulas.
Menino da pele pálida, dos sons mixados, das imagens turvas, da diversão plástica.
Garoto das bolhas de sabão, e bolhas de vidro, e de cristal. Bolhas e mais bolhas. Bolhas que estouram, bolhas que se partem. Bolhas coloridas, perfeitamente desenhadas.
Sentado no canto da festa. Pudera outro ver, menino, além de mim, o que se passa quando as luzes da sua passarela se apagam.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A pior parte de mim - Allana B.


Você.
A pior parte de mim tem quatro letras, duas sílabas. É oxítona.
Ela me aprisiona, encarcera entre os dedos e me tira o ar. Ela me sufoca, martiriza. Atormenta os meus sonhos insistindo no desejo sádico de brincar de jogo-da-memória.
Ela tem seus olhos, seus dentes, seu sangue. Comodista.
Controladora, rejeita todas as outras partes. Proíbe. Nenhuma é boa o bastante, nenhuma é má o bastante. Não há outras partes. Nunca para esta parte,
E por essas e outras eu a acolho em meus braços, encho de beijos e cubro antes de dormir. Eu a escolho entre tantas partes para, muitas vezes, ser a minha única.
Por ela eu escolho matar a morrer, agir a apenas observar. Por ela eu escolho revidar, responder, reviver, e reviver tanto até meu corpo implorar por uma pausa.
Quem dera voltar no tempo, onde não existia a pior parte de mim. Onde era apenas eu, bem antes de aceitar o convite preso em cima dessa parte, tolhido em uma fotografia.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O apanhador de sonhos - Allana B.

De tanto tomar café, sentia dores no estômago. E então tomava remédios.
De tanto tomar remédios, tinha insônia, e então, tomava chás.
De tanto tomar chás, dormia. E de tanto dormir, sonhava.
E de tanto que sonhava, tinha pesadelos.
Vivia vidas que não eram suas, era perseguidas por monstros - muitas vezes reais.
Certo dia, sonhou que estava em uma praia, nua, cercada por câmeras. Acordou e quis chorar. Chorou.
Outra vez, sonhou que chovia e se afogava em lama. Acordou e quis respirar. Respirou.
Ainda, sonhou que vibrava, em frequências indecifráveis, de impossíveis equalizações. Acordou e quis gritar. Gritou.
E gritou tão alto que a vizinha ouviu, a irmã ouviu, a tia ouviu, a amiga do trabalho ouviu. Preocupada, comprou um apanhador de sonhos.
"- É pra colocar em cima da cama, e não pode deixar arrebentar. Ele te tira os pesadelos, mas, se rasgar, todos eles escapam." - foi o que disse uma das tantas que ouviram.
E de tanto ter pesadelos, comprou.
Na mesma noite, dormiu. E dormiu tão bem, sem sonhos, que não quis acordar. E do tanto que não sonhou, não acordou.

-- - Allana B.


Remédios líquidos são amargos, mas servem para curar. 

Quando injetáveis, doem mais, mas curam mais rápido. 
Não há cura sem dor.
E quanto maior a dor, mais rápida a cura.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

sábado, 29 de setembro de 2012

-- - Allana B.



S
uas palavras desaguam
Em meros fozes-olhares
Que soluçam silenciosamente

Então deixe-me afastada

Longe de cada possível chance
De contado imediato

Eu não quera novas faíscas

Eu não quero novas chamas
Novas, novas queimaduras

Eu quero poder te olhar

Sem ter de provar sempre
O quanto eu não te quero

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Quem é ela? Quem mesmo? Deixe-me lembrar...Não me lembro. - Allana B.

Quem É Ela está em todos os lugares. Quem É Ela te persegue. Quem É Ela sabe sua cor preferida, conhece cada fio do seu cabelo, conhece sua banda predileta. Quem É Ela sabe de tudo.
Quem É Ela é um nome muito grande, você prefere chamá-la de Quem Mesmo, ou, se se sente melhor, chama-a de Deixe-me Lembrar.
Quem Mesmo sabe que você anda correndo, que você meche no rosto quando está nervoso, que gosta de escrever. Deixe-me Lembrar sabe. Sabe que você gosta de contato com família, de marcas no corpo, de suspiros intermináveis.
Quem Mesmo conhece de cor a estória do seu livro preferido, sabe até o número de páginas, a quantidade de letras. Quem Mesmo gosta de te ver sorrir, ironizar, erguer as sobrancelhas quando não entende algo que Quem É Ela fala.
Deixe-me Lembrar gosta de quando você brinca, implica sutilmente. Deixe-me Lembrar gosta de quando você sorri, ou simplesmente acena, sem precisar pronunciar seu nome.
Um dia, talvez, tenha chamado-a de Não Me Lembro, cansado de Deixe-me Lembrar. Mas Quem É Ela sabe disso, e tenta não se importar. Na verdade, Quem É Ela prefere Deixe-me Lembrar. Deixe-me Lembrar dá uma ideia de esperança, sabe? Como os dias em que a areia da praia brilha no breu da noite.
Mas ela gosta de quase tudo. Quase tudo mesmo. Até de quando você reclama, briga. Entretanto, Deixe-me Lembrar sabe que mais tarde será chamada de Quem É Ela, e Quem É Ela odeia seu nome.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."
"E só de te ver eu penso em trocar
A minha TV num jeito de te levar
A qualquer lugar que você queira
E ir onde o vento for
Que pra nós dois
Sair de casa já é se aventurar"

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Simplicidade - Allana B.




Simplicidade
É sentar na janela
Pra poder te ver passar
Com jornal na mão
E shorts largos
Esperando a fila andar.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

domingo, 5 de agosto de 2012

Então isso está certo? Trocar suas palavras por uma sinfonia barata?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Reverso - Allana B.



Seus olhos não têm nome
Seus pesadelos não têm danos
Seu silêncio não tem pressa
Seu martírio não tem sangue
Seu sangue não tem dó
Seu rugido não tem olhos
Seus danos não têm peso
Sua pressa não tem prece
Como o sangue de martínis
Cantando em dó menor.

terça-feira, 10 de julho de 2012

-- - Allana B.



Já que não posso roubar teu coração
Roubo tuas palavras
Meu nobre poeta desajeitado
Que de tanto falar
Acabaste sem ter o que dizer

Pleonasmo - Allana B.



Eu te amo como o ar
Perfurando os meus pulmões
Como as palavras arranhando a garganta

Eu te amo como o céu
Que chora sempre que o peso
Fica forte demais para sua sublime perfeição

Eu te amo como as mesóclises
E próclises, e ênclises
Em guerra constante com o espaçoso silêncio

Eu te amo como muitos marcos
Que marcam muitas vidas
Mas não como você. Nunca como você.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Chinelos - Allana B.



De propósito eu sei
Que ontem eu pude encontrar
Palavras nas tuas portas fechadas

Entre o novo e o depois
Que eu quis e vi os teus pés
Onde os chinelos não cabem

Eu descobri no seu rosto
Que a gente não acontece mais
Em meio a tantas desculpas

E o dia parece sentir
Saudade de te ver ali
Trocando velhos sorrisos

domingo, 1 de julho de 2012

Animal - Allana B.

Eu continuo sendo o seu animal, pedindo carinho, querendo dormir no colo, deitada no chão implorando para que você me segure outra vez. Milhões de faces continuam difíceis de serem codificadas, mas eu continuo sendo o seu animal.
Eu continuo sendo o seu animal, querendo seus cuidados, querendo comer o que você come, dormir onde você dorme. Deitar na sua cama sem que você veja. Ninguém deixou de acreditar nisso porque eu insisti em continuar sendo seu animal.
Eu continuo sendo o seu animal, chorando na sua porta, arranhando-a com toda a minha força, implorando para dormir do lado de dentro. A minha vergonha se dissipa a medida que eu continuo sendo o seu animal.
Meu coração nunca negou isso, e eu continuo sendo o seu animal.

sábado, 30 de junho de 2012

-- - Allana B.



O tempo cura tudo. Tolos. Tolos todos os que dizem e repetem esse estúpido período simples.
O tempo não cura nada. Feridas são inapagáveis. Todos os seus dados, erros e pecados são encapsulados e armazenados permanentemente em cada célula do seu cérebro. Todas as palavras que saíram da sua boca, todas as mãos apertadas em reuniões secretas, tudo, tudo está livre, percorrendo a atmosfera. Nada está a salvo.

Tô cansada de ser mãe de todo mundo, de dar coberta, de aquecer o frio. Hoje eu preciso de colo, de abrigo, mas meus braços só encontram essas paredes.

domingo, 24 de junho de 2012

Me avisa - Allana B.



Eu arrumo a minha casa
Mas você não vem
Então eu sento no asfalto
Sem estacas, sem ninguém

Eu faço meus pedidos
Construo meu altar
Embora sempre me falassem
Que eu não sabia rezar

Que eu nunca descobri
E nem podia ensinar
O que era o silêncio
Que não ousei escutar

Mas eu sei que aprendi
Pra quando você chegar
Então me avisa, pra eu pintar
Novas taças pra brindar

Me avisa pra eu pintar
Novas taças pra brindar

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Que quer os seus beijos - Allana B.


Olha como ele lança
Seus olhos de dança
Nos teus cabelos

Olha como ele cisma
Que quer os teus beijos
Em cima do altar

Sentir o prazer
Da casa arrumada
Da pressão dos dedos

Olha como ele finge
Que com teus sorrisos
Aprendeu a amar

Pra sempre - Allana B.



O medo se esconde nas ideias tortas, ideias inseguras que saltitam pelos vales das lembranças. E há muito mais delas no meu travesseiro do que eu possa esconder quando os olhos de fecham.
A pista está sempre escorregadia, o farol frequentemente baixo, as curvas eternamente acompanhadas das placas de "perigo", e o meu carro temperamental permanece desgovernado.
Talvez não haja mais solução, talvez seja hora de cerrar as mãos e deixar que o oxigênio paire sem dificuldade dentro de meus pulmões. Talvez seja hora de dormir, porque eu quero dormir. Pra sempre.

Gosto - Allana B.



Eu gosto dos seus olhos
Eu gosto do seu sorriso
Eu gosto do eu cabelo

Eu gosto do seu gosto
Eu gosto do seu cheiro
Eu gosto do seu jeans velho

E eu ainda gosto de fingir
Que depois de gostar tanto
Eu não gosto mais de você

quarta-feira, 13 de junho de 2012



Todos os descendentes andariam sobre as linhas ainda que eu não soubesse o porquê. Porque nós tivemos tempo e erro.
Eu tenho o seu nome na palma da minha mão, e isso me mata por ter que fingir que não temos a vida que pensávamos que teríamos e que após tanto tempo, ainda não é o bastante.
O ar inalado é mais que oxigênio e menos que a vontade de escapar. Sem dosagens.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Rezar - Allana B.



Alguma coisa tá incerta
Eu sei posso sentir
Se abro os olhos e te enchergo
Te quero longe daqui

Mas se um dia eu me perco
Sempre volto a te buscar
O desejo é o sossego
E paz é o teu olhar

Será que desse lado
A vida passa de vagar?
Visito o teu espaço
Eu no teu peito a navegar

A noite é muito longa
E o que eu gosto de fazer
É rezar bem baixinho
Pra que eu cante pra você

Analogia - Allana B.

Ângela veio ao Brasil, nunca havia comido brigadeiro.
Certo dia experimentou brigadeiro pela primeira vez. Adorou.
Mas era algo incerto, indescoberto, e Ângela não podia se jogar de cabeça. Foi comendo aos poucos, pelas beiradas, até que se acostumou com o sabor maravilhoso do doce.
Então Ângela conheceu o melhor brigadeiro, feito na melhor fábrica do mundo.
Ela provou o brigadeiro e gostou tanto, mas tanto, que preferiu guardar para mais tarde. Então, quando sentia vontade, pegava, tocava, cheirava, mas nunca comia. Estava guardando para a hora certa.
Até que o dia chegou. Cansada após uma longa corrida na praia, Ângela abriu a gaveta de roupas e lá estava, meio que sem querer, o brigadeiro.
Animada, excitada, tomou o doce em suas mãos e, para sua surpresa, o brigadeiro estava mofado.
Tirou todas as roupas da gaveta em busca de um outro brigadeiro, um brigadeiro bom, mas não havia nenhum ali.
O tempo havia passado, o brigadeiro havia estragado.
E não importa o quão doce e delicioso o brigadeiro tivesse sido um dia, ou o quanto ela desejava desesperadamente comê-lo naquele momento, tudo o que podia fazer ela lembrar... Lembrar e se perder na saudade dos atos que não teve tempo de cometer.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Na previsão - Allana B.


Acorda que é manhã
E o sol veio convencer
Seus pés a se moverem
Juntos aos meus

Levanta quase são
Que eu vi na previsão
Que hoje vai fazer frio
E vai chover

Você lembrar não é normal
E a malícia dispersa
O que eu treino pra esquecer
Se não eu corro atrás

Olha agora, mais uma vez
Algo me diz que sempre foi assim
Eu escrevendo versos
E você olhando pra mim

domingo, 13 de maio de 2012

-- - Allana B.


Me acorda com bom dia
Que te faço poesia
E se o gosto na sua boca é de café
É sinal de que em algum lugar
Você está sendo meu

Sua blusa ainda me serve
Porque pijama está caro
E o trabalho custa muito
Para quem nunca quis nada

Então, abre essas cortinas
Que hoje eu não quero saber
Não vou levantar, não vou comer
Não vou notar
Que o alguém é você

terça-feira, 1 de maio de 2012

A.M.I.G.A.

Alguém disse seu nome
Mas você sequer ouviu
Inconscientemente
Garantiu que seria melhor
Acabar com tudo.

Taças de veneno - Allana B.



Se eu pudesse voltar no tempo, faria parte das besteiras incometíveis que jamais cometi. Iria a mais festas, partiria mais corações, brindaria mais vezes segurando taças de veneno. Engoliria mais fumaça, menos sapos.
Contaria mais estrelas! Faria mais tatuagens, derreteria marshmallows enquanto pirilampos asfixiariam-se em potes de vidro.
Faria sexo na mesa do escritório.
Eu criaria novos planos, picharia paredes maiores, derrubaria o muro de Berlim.
Ainda bem que não posso voltar no tempo, dragões protegeriam meu imenso castelo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Canta - Allana B.


Canta no meu ouvido, sem lágrimas dessa vez.
Quero só você, a sua voz e seus suspiros. Seus milagres cuidadosamente impensados.
Não chora, menino, eu sei que o frio é grande, mas nessa cama há espaço demais e eu não ligo de dividir as minhas cobertas.
Encare. As coisas mudaram.
Os dias passaram como vultos por essa janela e você nem viu.
O sangue secou nos braços, as feridas se fecharam, o carteiro bateu dez vezes todos os dias, até o momento em que se cansou e passou a deixar as contas sobre o tapete imundo.
Levanta desse chão, vem pra cá que hoje tudo o que eu quero é te ouvir cantar.
Canta pra mim, de modo que eu esqueça tudo o que passou, tudo o que passamos e tudo que é passado.
Tira os seus sapatos, a sua roupa, você conhece cada canto dessa casa. Vá tomar um banho.
Não precisa sorrir, não precisa falar. Mas canta, mesmo que seja apenas pra cantar no chuveiro.

domingo, 1 de abril de 2012

Ruge - Allana B.



O peito dói. E dói forte.
Dói como as gotas de álcool na ferida aberta entre a pele. Dói como o desejo incessável por medicamentos, e o exagero vago nas dosagens súbitas de inconsciência.
Dói como os olhos perdidos nas miragens das enchentes em pleno deserto.
O peito dói e grita, grita alto, se afoga em sangue e suspiros.
O peito ruge.

quinta-feira, 29 de março de 2012

"Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do iní­cio ao fim.

E é só você que tem a cura pro meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi."

quinta-feira, 22 de março de 2012

Eletromorfose - Allana B.

[...] Mil estrelas me atravessam nessa eletromorfose. [...]

Polifases - Allana B.


Menino dos olhos de água, dos olhos de fogo, dos olhos de gelo... eu não quero ter que medir as palavras dessa vez. Eu não quero te perder nessas linhas borradas.
Lágrimas pesam como hemisférios em minhas mãos. Você não sabe como eu odeio esse momento? É a saudade que vem com estacas e punhais, pronta para te colocar no peito e abraçar firme.
Menino, solta esse porto e pega a minha mão. Prometo que te conto histórias, como as que escrevi a milhares de versos atrás e você nem soube. Só não me deixa dormir sozinha de novo. Eu tenho medo de escuro.

domingo, 11 de março de 2012

Milagres Transgênicos - Allana B.


Milagres transgênicos inundam as bancas
Mentes alienadas compram produtos
E tudo está bem.

O nacionalismo rasgando as veias
Sentir na pele o que é ser
Onde nada é.

Almas negligentes agonizam
Sedentas por ter cada vez mais
Ouro nos dentes.

Máquinas contaminam o ar
De libido e gemidos
De fumaça.


sábado, 3 de março de 2012

O homem - Allana B.

Eu poderia dizer que conheci um homem, mas estaria mentindo. Eu conheci o homem.
E o homem não tinha cabelo loiro e olhos azuis.
O homem tinha um dom, o dom de me fazer sorrir. Mas não o sorriso de muitos outros homens, que pousava em meu rosto apenas para lembrar quão doce é o gosto de sentir e, então, retirado à força e lançado ao vento para sair voando e pousar em rostos de outras mulheres.
Aliás, mulheres não. Garotas.
Sou garota... frágil, pequena, perdida entre um milhão de homens. Mas o homem era diferente. O homem trouxe esse sorriso como um presente, só meu, embrulhado em papel prateado e sem registro de duração.
O homem era inteligente, mas não como tantos homens que se vestem de branco e passam suas vidas respirando formol em laboratórios. O homem gostava de artes. O homem gostava de literatura, quadrinhos.
Certa vez, encantada com o homem, perguntei: - Por que você não namora?
O homem sorriu um sorriso maquinal e falou palavras digitadas. Um momento estranho... Vamos deixá-lo assim.
O homem era criativo. E isso me encantava. Ele tinha todas as respostas. Respostas divertidas, respostas que eu levaria horas para criar.
E ele era tão natural...
O homem tinha um tio. E mais nada. O homem tinha tudo, e meus olhos não conseguiam esconder a admiração por aquele homem.
E o homem chegou. Sem armadura, espada ou cavalo branco. O homem chegou vestindo blusa de desenho animado e em seus braços, apenas a distância aconchegante que abrigava meus medos e acalmava meus pesadelos durante a madrugada.
E o homem sorriu pra mim.
O homem trazia presentes. Não rosas, não chocolates... O homem me escrevia contos, e não contava os contos do homem, sequer deixava que os lessem. Tinha ciúmes, eram só meus. Tenho ciúmes.
Mas eu não quis o homem.
O homem trouxe medicações, mas meus ferimentos eram graves e os remédios, amargos.
O homem trouxe paciência, mas o furacão de pensamentos ainda era o meu único costume, e a paciência me fez sentir segura. E adormecer.
O homem quis me fazer voar, mas eu tive medo, então me sentei na ponta do penhasco e o vi planar.
O homem, talvez desnorteado, quis trazer tudo, quis trazer o mundo, mas eu sabia que o mundo era grande demais para suas mãos. E grande de mais pra mim, garota... e eu não quis o homem.
O homem trouxe o silêncio. E a distância na distância.
E de lá de cima do penhasco, pude observar o homem descer. E encontrar a mulher.
O homem encontrou a mulher, bonita, com cabelos ondulados e olhos azuis. E eles sorriram, e beijaram, e cozinharam. E o homem estava feliz.
E hoje os observo daqui de cima, e imagino como seria se tivesse aceitado voar naquele dia. Se não tivesse dormido, se tivesse tomado meus remédios.
E imagino que o homem não estivesse tão feliz.
E às vezes, enquanto planam, o homem e a mulher, ele me lança um olhar discreto, um sorriso amigo.
E eu retribuo, com o mesmo sorriso que ele me presenteou um dia. O sorriso que eu nunca havia recebido, o sorriso eterno, o sorriso que está sempre comigo.
Às vezes me pergunto se encontrarei um homem, um homem loiro, de olhos azuis, que me traga flores e chocolates, que tenha em mãos a espada e o escudo.
Mas o homem... ah, esse eu jamais “encontrarei”. Esse eu já conheço.

-- Allana B.

Com o tempo a gente percebe que nada é tão aberto da maneira que sempre enchergamos. Que a neve gelada também queima, que o fogo não é só vermelho ou laranja, que nele existem o azul, o amarelo. Que o céu nublado não espanta as estrelas, apenas as guarda para o momento certo de brilharem. Um dia as pessoas percebem que passos na areia são lindos papéis de parede, mas que se não forem fotografados logo, basta uma onda para que eles se vão instantaneamente. Que o mundo dá voltas, trazendo o dia para que aproveitemos o máximo e nos esqueçamos que logo a noite chegará, levando a luz embora e deixando apenas cetilhas de lembranças. Que os sentimentos não dependem de sensações físicas mas que sensações psíquicas dependem diretamente de sentimentos. Que olhos fechados podem enchergar muito além do que veem quando estão abertos. Que metamorfoses acontecem constantemente, e assim como as lagartas viram borboletas incríveis, algumas borboletas simplesmente preferem continuar lagartas. Com o tempo a gente percebe que nada nem ninguém pode determinar o seu destino, pois o caminho é percorrido por nós. As escolhas são nossas, as mudanças. Nós somos quem sentimos os cheros, os gostos, apreciamos os diversificados sabores, desde o amargo ao mais doce. Mudanças são necessárias. A vida é uma dose de adrenalina diretamente ingetada em nossas mentes, forçando-as a traçar estratégias através de intuições, exigindo que arrisque-mos cada vez mais! Lutar é preciso, e ser vitorioso é uma delícia.

Talvez - Allana B.

Comprou sorrisos das bocas belas

E roubou as flores do chão da avenida

Discos de vinil, todos tinha em mãos

Pegou carona com os Beatles no Domingo



Cruzou os milhares de profundos oceanos

Pegou as pérolas que ninguém jamais encontrara

E seus olhos cegaram-se por instantes

Tamanha beleza talvez compensasse



Mas talvez jamais deixara de ser talvez

E talvez a encontrara em outros braços

Com um “talvez não estivesse sóbria”

E talvez palavras não servissem pra nada



Colocou os pés sobre o chão frio

E se despiu da capa de herói

Não sabia que horas eram

Ou eram as horas que nada sabiam?

Conversa inútil em mesa de bar - Allana B.

E lá pelo décimo copo já não sabiam que horas eram. Ela olhava para o longe, brincando com a tampa da garrafa inconscientemente com os longos dedos finos, e ele apenas observava o vazio daqueles olhos delineados.

O que faziam ali, afinal? Sabiam que o libido não bastava, o sentimentalismo não bastava, o braço sobre os ombros não bastava. Mas ele ainda tentava - inutilmente, sabia - ver ao menos uma gota escorrer, ou qualquer outro sinal de que o gelo de todo o seu coração algum dia derreteria. Mas nada acontecia. Nada. E em meio a tantas vozes o silêncio era verdadeiro acompanhante da noite. Ele sabia, ela avisara, mas aquelas palavras eram inúteis demais para fazê-lo desistir.

A noite estava quase perdida. “Pedirei a conta”, pensou. Mas o destino age em silêncio, e alcoolizado.

A antiga melodia soava ao fundo. Ambos se olharam, mas não o suficiente para que a impedisse de voltar os olhos para o vazio e acender mais um cigarro. Ele então, em sua última tentativa, apenas comentou.

- É uma bela canção…

Ela suspirou. Tragou mais uma vez, bebeu o último gole.

- É uma bela canção.

Indignado, bufou baixo. Haveria iceberg maior que o seu coração? Quis pedir a conta, pegou o telefone para chamar um táxi.

- Realmente, é uma bela canção. - Repetiu ela, fazendo-o voltar a sua atenção àqueles olhos vazios novamente. - Mas ilusória. De fato, ilusória.

Mordeu os lábios cobertos pelos restos de batom vermelho. Ela falava, e ele não quis interromper.

- Todos os amores são intermináveis até que alguém precise lutar por ele. E quando esse momento chega, tudo o que podemos fazer é pegar as nossas coisas e ir embora.

O silêncio o cumprimentou, ele não soube o que dizer. Olhou o relógio. Discou os números.

-E o pior desse momento não é a partida, ou devolver a blusa que você usava como pijama. O pior desse momento é chegar na metade do caminho, olhar pra trás e ver que o amor era grande demais, mas não o suficiente para fazê-lo ir atrás de você.

Ele a olhava. Ficou com raiva. Quantas vezes havia dito que não cometeria os erros de outrem, que não eram a mesma pessoa? Quem entenderia o coração das mulheres? Cansou-se! Esperou tanto por palavras, mas tudo o que conseguia era sempre a mesma coisa. Quis brigar, mas a voz de sua “companheira” soou novamente.

Ela estava ao telefone.

- Eu gostaria de chamar um táxi, por favor.
E eram muitas, como em uma legião. Inúmeras crianças, com seus olhinhos pequenos e mãozinhas miúdas. Sorridentes, alegres, correndo felizes pelos corredores da velha casa. Ao acordar abraçavam seus travesseiros, agradeciam ao “papai do céu” por mais uma noite de sono tranquila em suas camas confortáveis e não demorava muito para que levantassem e corressem descontroladamente por toda a casa. Algumas vezes se machucavam, eram apenas crianças, e cabia aos responsáveis levá-las ao posto de saúde para tomar os tão temidos pontos. E naquela hora doía, mas eles estavam sempre lá, cuidando delas, fazendo de tudo para mandar aquela dor embora. E elas chegavam a casa, assim, no colo de alguém, meio que sem jeito, com o dedo na boca. Minutos se passavam e elas já estavam prontas para percorrer todo o caminho novamente. Quando se cansavam, deitavam-se na grama verde para desfrutar do belo pôr-do-sol de muitos entardeceres de verão. Mas o relógio na parede da sala não congelara como o desejado, e com o tempo, despertar nem sempre era tão bom e a corrida contra o tempo se tornava cada vez mais difícil. Ainda assim, correram, correram e caíram, eram apenas crianças. Os seus olhinhos procuraram aqueles rostos mas não encontraram ninguém lá e as suas mãozinhas não foram capazes de suportar o peso dos próprios corpos. E elas se cansaram de estar alí… lá fora chovia, estava frio, não havia pôr-do-sol ou grama verde, não mais. Naquele momento, tudo o que havia era o vazio, o espaço perdido de suas mentes, o qual pela primeira vez elas não queriam alcançar. Aquelas crianças dormiram na rua aquela noite.

Marilia - Allana B.

E há ainda quem se lembre daquela velha história, daquelas estranhas palavras. Talvez fosse mais fácil se não houvesse morrido aos 27, quase 28.

”- É uma pena… tão nova…” - Ouvia-se dos vizinhos no triste velório. E pela sua casa ainda se encontravam os restos da cocaína que ninguém se atreveu a tirar.

Overdose. Modo triste de se morrer.

Fazia planos, sabe? Havia decidido entrar para a faculdade, voltar a estudar ( por mais que houvesse decidido isso com 27), porém, decisões imediatas não alteram anos de passado. E cá entre nós, nunca tivera tanta vontade assim.

E era assim que andava. Sem vontade, sem nada. Se passavam por ela, travava os passos, caminhava com o olhar. Os olhos negros, as olheiras profundas, o contorno mórbido.

Era ela, reflexo das noites de sábado, dos cigarros, dos desejos nunca realizados. Era o canto do silêncio, o paradoxo, a sinestesia. E era porque queria, porque pactuava constantemente com o destino, com a sua realidade.

Era assim, sempre foi assim. A adolescência lhe fizera assim. O fim do colegial, a sua vitória! Pelo diploma? Jamais. Pela distância. Pela solidão. Finalmente haviam acabado as manhãs em que trancava-se no banheiro e permanecia alí com as suas melhores amigas: As pedras. E lembrava-se perfeitamente! Aos 15, primeira droga. Primeira decepção, primeira transa, primeiro amor, primeiro beijo, primeiro garoto. Fabrício. Não sabia o que chamara a sua atenção. Talvez fosse a independência, os cabelos negros, o jeito de não se importar com nada. E bastou lhe apresentar as pedras, para que sorrisse e dissesse: - Eu sou sua.

15 anos… dizem que é o ano de transição de menina para mulher. Para ela, era apenas mais um ano qualquer. Já era mulher, aprendera cedo no orfanato onde via as famílias se formarem, onde via seus amigos partirem para uma vida melhor, onde via que sonhos não eram reais. Não para ela. E conto-lhes um segredo! No fundo, no fundo, era apenas chama de esperança, visto que já sabia disso desde os 6, quando seus pais morreram no acidente.

Foi rejeitada pela família. Ninguém a quis. E era tão feliz… Lembrava todos os dias da sua mãe lhe abraçando, contando histórias, destraindo-a enquanto esperava a embriaguez do seu pai amenizar. Lembrava da dor que ela sentia, de ver mãe lançada ao chão, corpo ferido, e do sorriso vitorioso de seu pai ao bater nela. E mesmo assim, aquele era o seu momento mais feliz que recordava. Mas, definitivamente, havia outro, outro que não lembrava mas, se o fizesse, seria o mais feliz.

Aquele momento glorioso chamava-se vida. Quando chorara, quando fora colocada nos braços de sua mãe pela primeira vez. Era verão, duas e meia da tarde. O sol brilhava, o céu estava límpido. 5 de Janeiro, nascia Marilia, dona do mundo, dona de si.

Lugares - Allana B.

Quem dera pudéssemos, lúcidos, tratar a dor da vida como mera inspiração. Pobres de nós, poetas. Quem dera a vida nos desse festas inacabáveis, sonhos intermináveis, amores inabaláveis. Quem dera sussurros maliciosos, suspiros meticulosos, desejos perigosos. Quem dera crianças nos parques, amigos nos bares, paisagens, lugares. Quem dera sorrisos sinceros, abraços eternos, auxílios externos. Quem dera… Quem dera corridas vencidas, sem mais despedidas, sem vidas sofridas. Quem dera um amor pra vida inteira, uma chuva passageira, uma rima sincera, descontraída, verdadeira.

Irracional - Allana B.

Irracional foi pensar que você estaria aqui de outra forma se não passando entre minhas veias, tornando o ar cada vez mais espesso, penetrando impiedosamente em meus pulmões. E eu, desvitalizada, sempre privando tais ruídos sigilosos da tortura exibicionista que se nomeia, autonoma e autoritáriamente, vida. E há ainda momentos em que, ingênua, relato ao silêncio sobre como o sentir falta tem justificado a minha falta do sentir. E ele responde. Exatamente. Assim.

-- Allana B.

Eu sei que minhas palavras estão fracas, meu amor, mas trago através delas tudo o que eu sinto, e tudo o que eu gostaria que você soubesse. Como por exemplo, que os meus olhos procuram os seus todas as noites nesse quarto escuro, que minhas mãos procuram as suas enquanto caminho por essas ruas desertas, que meu sorriso procura o seu para ter o mínimo de sinceridade. Que eu amo o jeito que o seu cabelo se torna mais claro quando você está no sol, o jeito que você coloca a sua franja atrás da orelha e as suas reclamações sobre o tal volume nos lados. Que a cor dos seus olhos é a mais bela obra prima que nenhum artista seria capaz de recriar, e o jeito que você me olha quando o silêncio nos envolve faz o meu corpo todo estremecer, que eu amo quando eles percorrem as ruas que passam através da janela do ônibus, ou quando apenas se fecham quando nossos lábios se tocam. Que eu admiro inexplicavelmente a simetria da sua boca, o seu gosto, o jeito dela de ser minha. Que eu venero o seu rosto desenhado, cada traço, cada ponto. Que quando você me toca eu desejo com todas as minhas forças apenas uma estrela cadente, capaz de fazer o tempo parar, que quando você o faz, é como se fossem injetadas diversas doses de adrenalina de uma vez só direto nas minhas veias, e que eu dificilmente sou capaz de me controlar. Que eu me sinto absurdamente feliz quando você me abraça, pois é como se nada pudesse me afetar. Que o jeito que você segura a minha mão, mesmo quando não gosta, me faz sentir estranhamente orgulhosa por ter você comigo. Que eu aprecio, quando eu durmo ao seu lado, o jeito que você me faz sentir segura, em paz, e que eu adoro o jeito que você me acorda. Eu quero que você saiba que eu venero você, e venero estar com você. Eu venero cada gesto, cada palavra sincera, cada sussurro, eu venero exatamente tudo! E apesar de toda a sinestesia, não há nada que eu queira mudar, pois você é o mais próximo da perfeição que eu nunca seria capaz de alcançar. Você sabe exatamente como me fazer todos os dias a mulher mais feliz do mundo, me fazer questionar se sou mesmo merecedora de ter você ao meu lado, e que eu poderia agradecer a cada segundo até eu morrer, ainda assim não seria suficiente. Não se explica o inexplicável, e eu te amo, sabia?

-- Allana B.

E se guardássemos todos esses momentos em pequenas caixas, perfeitamente embaladas, talvez entendêssemos o motivo pelo qual a as ruas no outono se cobrem de folhas. Eu vejo que tudo fica mais diferente a cada instante, como as rugas em nossas peles, como a inocência que se perdeu entre tantos motivos para estarmos vivos. Se lutássemos por algo além do que nos espera no outro lado das fronteiras, talvez não precisássemos de olhos roubados para revelar a verdade. E se parássemos para prestar atenção, qualquer quebrar de ondas noturno se faria sinfonia, e em braços fraternos nós repousaríamos em paz.

-- Allana B.

“E você canta. Canta para quebrar o corpo e esfaquear o silêncio com o frio dessas palavras em chamas.”

Rebobinar - Allana B.

O mesmo olhar, o mesmo modo de andar. O mesmo sorriso plástico.

Serpenteando vagarosamente entre as mesas, o mesmo cheiro estúpido de café.

Ora, que ironia, a mesma chuva na janela. A mesma conversa fiada.

As mesmas perguntas tolas, como se já não soubesse de cor todas as respostas.

O gesticular, o tom convidativo, os mesmos.

A mesma gentileza insuportável, a mesma carona desnecessária.

As mesmas cores e carros e luzes e vultos e ilusões correndo por trás do vidro molhado.

A mesma música enjoativa. Os mesmos desejos tediosos.

O mesmo apartamento.

Sem convites, as mesmas negações.

O mesmo clique de porta se abrindo, a mesma pressão no braço.

o mesmo corpo colidindo com a parede.

Não dessa vez. O mesmo não.

O mesmo rosto virando, o mesmo empurrão.

As mesmas lágrimas. As mesmas vãs negações.

Os mesmos toques terremotoriais, as mesmas carícias roubadas.

A mesma boca fria, o mesmo hálito doente.

o mesmo revirar de olhos, o mesmo subir de escadas.

A mesma sala apagada, as luzes da cidade atravessando as janelas e abraçando o chão frio.



…………………..

…….

……………

………..

O mesmo despertar. O mesmo arrependimento.

O mesmo nojo, a mesma cama vazia.

O mesmo ciclo.

De novo.

De novo.

E de novo.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Em chamas - Allana B.

Eu conservei as peças intactas

Implorando por uma advertência

Sobre não exceder limites


Eu estou petrificada

Me agarrando aos seus sussurros

Ausentando antigas vulnerabilidades


Eu vejo novos sóis nascentes

Máscaras e faces se mesclam

E sombras estão em chamas

Fim - Allana B.

Quando os sons se calam e o vazio penetra sorrateiramente em você, é sinal que tudo chegou ao fim. E chegou. Sem vida, sem cor, sem nada. O fim gélido, acinzentado, coberto por essa neve espessa que eu jurava que seus olhos podiam derreter. O fim substantivo, das palavras fugidas, das pulsações paradas, do sangue estático. O fim, nosso fim. Fim das conversas amáveis, dos desejos, da saudade. Fim, fim, fim! Que transforma aquele não na minha vontade de te ver voltar clamando por um sim.

Dizer - Allana B.


De uns dias pra cá, nada tem sido mais forte que a sua voz na minha cabeça. E o seu jeito, e o seu cheiro, e tudo o que eu não canso de dizer.Todas as trocas de olhares, as carícias e as barreiras. Todos os sorrisos que compartilhamos e os medos que precisamos enfrentar. As brigas que se rendiam infielmente às delícas da reconciliação. E tudo o que você me disse, e todas essas noites que tenho passado sem dormir, apenas pra recordar cada detalhe, desde o timbre da sua voz até o som tímido da sua respiração. O sorriso que vem ficando estampado no meu rosto involuntáriamente, a inocência e o desejo na mais perfeita sinestesia. E o medo, o medo de que esse momento seja curto, breve. O medo que me faz segurar com todas as forças cada segundo ao seu lado, fixá-los na minha mente de qualquer maneira e explicar a você os motivos de nunca te deixar ir embora. E que seja eterna essa certeza de acordar sem medo de te ver partir, de abrir os olhos e encontrar você aqui.

Cartões Postais da Itália - Beirut


“Os nossos tempos/ Oh, quando o vento viria com chuva e neve/ Não eram tão maus/ Colocávamos nossos pés onde eles tinham, tinham que ir/ Nunca ir/ A alma despedaçada/ Seguindo próxima mas quase duas vezes mais lenta/ Nos meus bons tempos/ Sempre havia pedras de ouro para arremessar/ Naqueles que admitiam a derrota tarde demais/ Aqueles eram nossos tempos/ E eu amarei ver esse dia/ Esse dia é meu/ Quando ela vai casar comigo lá fora com os salgueiros/ E tocar as músicas que fizemos/ Elas me fizeram assim/ E eu amaria ver esse dia/ O dia dela era meu. “

E pela primeira vez durante todos esses anos, o meu quarto não parecia mais tão escuro.