sábado, 3 de março de 2012

Conversa inútil em mesa de bar - Allana B.

E lá pelo décimo copo já não sabiam que horas eram. Ela olhava para o longe, brincando com a tampa da garrafa inconscientemente com os longos dedos finos, e ele apenas observava o vazio daqueles olhos delineados.

O que faziam ali, afinal? Sabiam que o libido não bastava, o sentimentalismo não bastava, o braço sobre os ombros não bastava. Mas ele ainda tentava - inutilmente, sabia - ver ao menos uma gota escorrer, ou qualquer outro sinal de que o gelo de todo o seu coração algum dia derreteria. Mas nada acontecia. Nada. E em meio a tantas vozes o silêncio era verdadeiro acompanhante da noite. Ele sabia, ela avisara, mas aquelas palavras eram inúteis demais para fazê-lo desistir.

A noite estava quase perdida. “Pedirei a conta”, pensou. Mas o destino age em silêncio, e alcoolizado.

A antiga melodia soava ao fundo. Ambos se olharam, mas não o suficiente para que a impedisse de voltar os olhos para o vazio e acender mais um cigarro. Ele então, em sua última tentativa, apenas comentou.

- É uma bela canção…

Ela suspirou. Tragou mais uma vez, bebeu o último gole.

- É uma bela canção.

Indignado, bufou baixo. Haveria iceberg maior que o seu coração? Quis pedir a conta, pegou o telefone para chamar um táxi.

- Realmente, é uma bela canção. - Repetiu ela, fazendo-o voltar a sua atenção àqueles olhos vazios novamente. - Mas ilusória. De fato, ilusória.

Mordeu os lábios cobertos pelos restos de batom vermelho. Ela falava, e ele não quis interromper.

- Todos os amores são intermináveis até que alguém precise lutar por ele. E quando esse momento chega, tudo o que podemos fazer é pegar as nossas coisas e ir embora.

O silêncio o cumprimentou, ele não soube o que dizer. Olhou o relógio. Discou os números.

-E o pior desse momento não é a partida, ou devolver a blusa que você usava como pijama. O pior desse momento é chegar na metade do caminho, olhar pra trás e ver que o amor era grande demais, mas não o suficiente para fazê-lo ir atrás de você.

Ele a olhava. Ficou com raiva. Quantas vezes havia dito que não cometeria os erros de outrem, que não eram a mesma pessoa? Quem entenderia o coração das mulheres? Cansou-se! Esperou tanto por palavras, mas tudo o que conseguia era sempre a mesma coisa. Quis brigar, mas a voz de sua “companheira” soou novamente.

Ela estava ao telefone.

- Eu gostaria de chamar um táxi, por favor.

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