sábado, 3 de março de 2012

Rebobinar - Allana B.

O mesmo olhar, o mesmo modo de andar. O mesmo sorriso plástico.

Serpenteando vagarosamente entre as mesas, o mesmo cheiro estúpido de café.

Ora, que ironia, a mesma chuva na janela. A mesma conversa fiada.

As mesmas perguntas tolas, como se já não soubesse de cor todas as respostas.

O gesticular, o tom convidativo, os mesmos.

A mesma gentileza insuportável, a mesma carona desnecessária.

As mesmas cores e carros e luzes e vultos e ilusões correndo por trás do vidro molhado.

A mesma música enjoativa. Os mesmos desejos tediosos.

O mesmo apartamento.

Sem convites, as mesmas negações.

O mesmo clique de porta se abrindo, a mesma pressão no braço.

o mesmo corpo colidindo com a parede.

Não dessa vez. O mesmo não.

O mesmo rosto virando, o mesmo empurrão.

As mesmas lágrimas. As mesmas vãs negações.

Os mesmos toques terremotoriais, as mesmas carícias roubadas.

A mesma boca fria, o mesmo hálito doente.

o mesmo revirar de olhos, o mesmo subir de escadas.

A mesma sala apagada, as luzes da cidade atravessando as janelas e abraçando o chão frio.



…………………..

…….

……………

………..

O mesmo despertar. O mesmo arrependimento.

O mesmo nojo, a mesma cama vazia.

O mesmo ciclo.

De novo.

De novo.

E de novo.

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