quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O apanhador de sonhos - Allana B.

De tanto tomar café, sentia dores no estômago. E então tomava remédios.
De tanto tomar remédios, tinha insônia, e então, tomava chás.
De tanto tomar chás, dormia. E de tanto dormir, sonhava.
E de tanto que sonhava, tinha pesadelos.
Vivia vidas que não eram suas, era perseguidas por monstros - muitas vezes reais.
Certo dia, sonhou que estava em uma praia, nua, cercada por câmeras. Acordou e quis chorar. Chorou.
Outra vez, sonhou que chovia e se afogava em lama. Acordou e quis respirar. Respirou.
Ainda, sonhou que vibrava, em frequências indecifráveis, de impossíveis equalizações. Acordou e quis gritar. Gritou.
E gritou tão alto que a vizinha ouviu, a irmã ouviu, a tia ouviu, a amiga do trabalho ouviu. Preocupada, comprou um apanhador de sonhos.
"- É pra colocar em cima da cama, e não pode deixar arrebentar. Ele te tira os pesadelos, mas, se rasgar, todos eles escapam." - foi o que disse uma das tantas que ouviram.
E de tanto ter pesadelos, comprou.
Na mesma noite, dormiu. E dormiu tão bem, sem sonhos, que não quis acordar. E do tanto que não sonhou, não acordou.

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